quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Já vai fazer um tempo que eu saio de casa sabendo que estou esquecendo alguma coisa. No primeiro dia, eu tentei viver como se não estivesse faltando nada, me diverti com as pessoas certas, fiz todas aquelas coisas de sempre, mas minha mente estava sempre em casa, pensando no que eu havia esquecido. Olhei minha bolsa, meus bolsos, meus papéis. Tudo ali. Só quando cheguei em casa e olhei pra sua foto, aquela em que você sorri e que eu sempre achei que aquele sorriso fosse meu. Aquela que eu olho todo dia e sempre sinto como se me pertencesse e tudo fosse uma questão de tempo pra transformá-la em algo real. Naquele dia, ao olhar pra foto, o seu sorriso me pareceu o sorriso de alguém que sorri amarelo, sem forças, como alguém que pede desculpas por ter mudado tanto. Você me pareceu alguém que olha pra trás e vê que
está deixando alguma coisa no meio do caminho e sorri, tentando consertar a situação. Foi justamente assim que eu me senti ao olhar pra você. Uma coisa que não importa mais, um brinquedinho que saiu de moda. Um filme de mistério que de tanto ser assistido perdeu o tal do mistério. A minha maior surpresa foi me pegar pensando todas essas coisas, coisas que se fossem pensadas há um tempo atrás, me trariam grande dor, mas que hoje não fizeram nem sequer um cocéguinha no meu coração. Eu me peguei pensando nisso tudo e aceitando. Como se fosse fácil aceitar que a pessoa que você mais amou na vida está indo embora, aos poucos, pra que a dor quase não seja sentida. Eu comecei a lembrar de todas as suas palavras e elas não me pareceram mais tão sinceras assim, o seu medo não parecia ser me perder e a minha vida não parecia ser parte da sua. Eu me peguei olhando pra tua foto e me perguntando quem era aquela pessoa que eu sempre achei que conhecia melhor do que a mim mesma. Eu olhei pra você, olhei pro tempo que passou e pra distância que nos separa e gritei: parabéns, vocês venceram! Joguei seu porta-retrato no chão, rasguei sua foto, e quando eu abri meu armário pra pegar a caixinha em que eu guardava um pedaço de você, eu percebi o que eu estava esquecendo quando saí de casa naquele mesmo dia. O meu amor por você. Era culpa da falta dele o vazio que eu senti durante o dia todo e toda a frustração que eu senti ao olhar pra aquela foto. O meu amor estava lá, se aquecendo entre os meus casacos, agarrado às coisas que estavam naquela caixa, como alguém que está sendo levado pela correnteza se agarra à primeira coisa concreta que vê pela frente. O meu amor temia morrer. O meu amor temia sair dali de dentro e morrer com a visão, dura e fria, da realidade. O meu amor, teimoso que só, se recusava a morrer assim. Com palavras não ditas, com dúvidas não esclarecidas e com amor não declarado. O meu amor, mesmo surrado, com as pernas fracas e com coração remendado, insiste em querer se agarrar a você. Ele quer você. Eu quero você. Mas e você? Você quer a gente? É esse o grande xis da questão: entender o que se passa dentro da sua cabeça. Entender o que existe por trás de todas aquelas suas palavras super bem escolhidas. O meu amor tá aqui feito louco, gritando no meu ouvido que ele não quer ser o seu brinquedinho pras horas de carência. Ele quer mais. Eu quero tudo. Ele quer ser sua alegria num dia triste, sua festa num dia feliz e seu abrigo num dia chuvoso. O meu amor que conhecer todos os teus mistérios e mesmo assim nunca compreendê-los, só pro filme não perder a graça nunca. O meu amor que sentir o gosto do teu amor, do amor que ele jura de pés juntos que existe em você. Desde aquele dia, o meu amor tem passado horas e horas dentro daquele armário. Vez ou outra, ele vem aqui fora tomar um ar, mas aí os ventos sopram forte demais, então ele volta pra onde seja seguro. Pra onde a única realidade seja aquela que ele sonhou pra gente. Desde então, tenho tido um amor contido, retraído. Um amor que, ao invés de enfrentar a realidade e mostrar que é forte o suficiente, a teme com todas as forças. O meu peito não é o mesmo sem a droga desse amor. A vida lá fora, o resto do mundo, perde a graça quando o amor não está aqui. Sinceramente, eu não sei quanto tempo nós (meu amor e eu) aguentamos. Então, vem antes que seja tarde. Antes que o meu amor morra sufocado. Antes que eu resolva de uma vez por todas, ficar no meio do caminho. Vem e traz contigo o teu amor, pra ele servir de agasalho pro meu amor medroso.

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